Aos que não aprenderam a socorrer.

maio 31, 2009


     Ontem, sentada em um banco de ônibus, cometi um voyeurismo que me fez rir e repensar. Havia duas garotas à minha frente, uma delas mexia o braço em um único movimento, e entre cada movimento havia um espaço de tempo em que um comentário era repetido, trilhões de vezes, “Que fofa”. Então ouvi um som que após eu sair daquele ônibus eu tive certeza de que era um álbum de fotos se fechando. As duas começaram a conversar, diziam que não se lembravam da infância, dos primeiros dias de vida. Eu lembro, sabe, eu me lembro dos meus primeiros dias de vida. E desta forma eu luto quando me dizem que ressuscitar não existe.
     Eu lembro, lembro sim, pois meus primeiros dias de vida foram quando eu entrei em um tal lugar. Até lá eu estava mortinha, sem esperanças ou sentimentos. Não sabia nem o que era mundo, universo ou coração. E então comecei a viver, descobri simbolizações que soam como suprimento emocional. Conheci o amor fraternal, descobri o que eu era. Aprendi a ler, matando a curiosidade “O que são amigos?”. Vivi bem devagar, descobrindo pouco a pouco as coisas da terra. Mas sempre frágil como uma lasca de cristal.
     Foi assim até o dia em que eu morri, até o dia em que palavras soaram mais alto. Até o dia em que eu descobri que nem todo mundo era bom, que existia dor, que uma irmão, apesar de ser irmão, poderia bater em sua irmã e até nos próprios pais. Descobri que fogo não era único e propriedade de fogão, vi o que o vicio causava em alguém que você amava. E lá estava eu, morta. Sem esperanças, com medo, e desejando todos os dias que eu pudesse ter a chance de morrer em carne. Em alguns tempos, alguns poucos anos, eu voltei a viver. Descobri que após cada chuva há uma toalha, que após cada tombo há um remédio e que após cada sofrimento há um abraço.
     Conheci o amor mais forte, o amor que se preocupa e que percebe aquilo que você é. E percebi também aquilo que me tornei. Nasci morta, vivi, morri, revivi e de qualquer forma... Eu não sei para que estou aqui. Há coisas boas e maravilhosas neste mundo. Mas às vezes eu queria não saber ler, não saber escrever, queria voltar à época em que eu ainda estava morta. Porque as ações do ser humano me deprimem, os aspectos da sociedade me fazem fria. E o sol para mim é como um perigo. O mundo é o mesmo dês de que nasci, aquilo que faz a diferença, é que assim como eu outros nasceram mortos, viveram e morreram. Mas o reviver havia se escondido, não havia um ombro amigo e assim se cresce morto. Diante de sua alma ferida, se deseja um corpo mutilado.

Mesmo morta, eu vou viver.

maio 24, 2009

     Eu sonhei com você ontem. Sonhei que você caminhava até meus braços e que um sorriso se abria em teu rosto. Eu ouço a cidade me mandando esquecer, dizendo que estou me entregando a uma dor de promessas mal feitas. E só o que eu consigo fazer, é fechar os olhos para o mundo e permitir que minha cabeça sucumba ao chão, me tornando, assim, inferior. E quão inferior sou eu a esse sentimento inigualável. E quanto medo me predisponho a omitir.
     Sinto como se a força fosse acabar em um instante, mas as chances se tornam longas pela esperança cega do amor. E com as pontas mais afiadas busco algum pingo d’água que ainda me reste da fonte. E então as lágrimas me alimentam. Os espelhos caçoam daquilo que me tornei. Eu vejo apenas uma alma fraca, com um coração forte.

     Em alguns segundos sua estaca está em meu coração. Assim como o mundo, o melhor a fazer e deixar isso para trás. Seu tempo é pequeno, você não pode dar conta desse amor. Não quer me machucar. Mas há uma pequena coisa que nos afasta de um fim, ainda me resta água da fonte. E até que no topo da montanha pare de chover, eu vou sobreviver tentando imaginar aquele seu sorriso que eu sonhei, dançando em seu rosto todos os dias.
     Eu não quero um sacrifício, não quero que você perca tudo, só peço que esteja bem. Que esqueça do que se passa aqui, e ainda assim que soe falso ou que seja intensamente dolorido, que diga uma vez por ano que ainda me ama, e não há pressa. De cabeça baixa e olhos fechados, meus braços não vão se cansar. Assim espero, e espero você.

Os homens na lua e eu aqui.

maio 19, 2009

Quero fazer a tatuagem que lembre meu passado, que apague parte dele. Que me lembre dos conceitos, das frases feitas que tirei, a chama forte de uma tristeza que se tornou um fogo amor, meus segredos e meus dias subjetivos. "Torne-se mais amável", não vou esquecer. Amável, eu tentei, tentei e talvez tenha chegado perto. Mas não tão perto quanto almejei. Fazem cinco meses, para onde foi o nosso amor? Queria saber para onde te levaram, ajoelhar com força e pedir o seu olhar de volta. Jura que ainda me ama, que te afastaram de mim mas que você quer voltar. Toda a minha vida sofri para me criar, para me criar diferente, individual, pessoal. Mas de que vale a batalha se o premio é entregue ao perdedor? Quero comer das raízes, provar a terra de uma aventura. Tocar seus olhos com os meus e fazer o ar fica denso. Quero a intensidade da história, da luta pela minha essência, eu quero meu premio, eu quero você. Mas ainda me falta um dom, me diz como eu posso vencer. Minha força e ágil movimento, contratempo a contratempo, de nada servem nesse campo. Amor não é minha praia, longe da minha laia. Necessito um empurrão, beije meu rosto e um boa noite sussurre. Estou trêmula pelo novo universo, amor é um sujeito metido, arrogante, dramático, exagerado, egoísta, egocêntrico, insatisfeito e íntimo. Como por tão longe, consegue tocar meu coração? À segundos de distâncias o amor nem passa perto, à milhares de quilômetros me prensa contra o mundo. Homens abandonaram suas casas para pisar em uma rocha sem luz própria e eu não tão distante de ti, estou parada aqui. Cada minuto parece um ano luz. Pequena flor rosa, a grande rosa flor. Me dê seu beijo, te dou meu amor.