fevereiro 01, 2009

     Mais um dia cansativo em sua dura, porém harmoniosa, vida. Ao entrar em casa observava ao redor para ter certeza de que nada estava fora do lugar, e que tudo fora bem organizado em sua ocupação de limpeza do dia anterior. Sentou-se a beira do sofá, com postura robusta e dedos delicados tateando a madeira rústica de sua mesa de centro. Olhava discretamente para a porta, como se qualquer movimento lá feito fosse, por automático, iniciar uma longa e frenética hora de contestação. E como um ratinho temeroso por trás de um escudo, pegou uma almofada e a apalpou em seu colo, prestando atenção a todos os barulhos que pudessem vir de fora da casa. Aos poucos foi relaxando, tirou os sapatos pontudos de couro, que tinham um salto elegante e frágil. Apoiou os cotovelos em seus joelhos trêmulos, e, ainda sentada no sofá, enroscou os dedos em seu cabelo loiro cacheado. Mordia os lábios tremendo o queixo, acariciava o relógio com os olhos e eriçava os pelos a cada som de passos leves que ouvia. Voltou para sua postura concentrada e robusta no sofá, observou a maçaneta rodar, e no movimento leve da porta se abrir e da jovem morena, que aparentava alguns 24 anos de vida, com um vestido vermelho um tanto vulgar e suas botas de camurça cor de menta velha, entrar na casa, Levantou-se do sofá, franziu o cenho e desatou a chorar. Por repulsa a jovem morena jogou a bolsa cozinha à dentro e abraçou sua menina loira, afagando seus cabelos e beijando sua testa em movimentos leves.

— O que foi amor? O que foi?

— Acabou, acabou tudo! Acabou tudo Micha, — chorava desesperadamente.

— O que acabou Elena, o que acabou loira? — segurou o rosto da jovem loira entre as mãos, invadindo seus olhos com um olhar confuso. Elena beijou seus lábios de leve, confundindo ainda mais os pensamentos de Micha, se afastou e chorou com mais força.

— Eu odeio não cumprir promessas Micha, acabou, eu não te amo mais. — A morena afastou-se de Elena, com um olhar de acusa e o cenho cerrado. Fechou os olhos com força puxando seus cabelos para traz e respirando fundo, sentiu o cheiro de pinho doce da casa. E ao abrir os olhos, Elena carregava uma mala de couro, velha e gasta. Elena Sorriu, ainda chorando, com uma tese de desprezo vindo de Micha. Saiu pela porta, e sem nenhum som mais, foi mundo afora, descobrir as promessas humanas que o coração se tenta a quebrar. Micha adoeceu mentalmente em sua sala delicada, com a pequena lembrança de cachos louros e macios, deixando um toque leve em suas mãos.

Ao Fábio: Eu não estou achando o "minha cartas aos meus pais", mas deve estar no meu email, se eu encontrar posto aqui amanhã.

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