Magnífico fim, o fim do que nunca existiu.

março 17, 2009

     Seus dedos estavam lá, tocando tão suavemente as teclas brancas. O som que tocava meus ouvidos era suave e trazia lembranças e sentimentos. A menina tocava com calma, mas eu poderia jurar que ela sentia dor a cada som que brilhava à sua volta. Cada toque que me levava de volta ao passado fazia uma lágrima correr com pressa por seu rosto. Ela era tão jovem, tão bonita. A menina dos olhos castanhos mais expressivos que eu já havia visto. A dança dentro de sua mente me fazia querer afagar seus cabelos e deixar que chorasse pelo resto da noite. A lua iluminava seu rosto tão bem, e aquele vestido rosa claro acetinado. Tudo em uma pura composição, uma orquestra. O fogo das velas fazia as águas parecerem cristais, e pequenas pedrinhas escorregavam por seu rosto. Seu olhar estava estacionado em um pedaço branco e limpo da parede, apenas suas mãos se moviam. Seus cabelos faziam ondas suaves com a corrente fria que a fazia tremer. Mas era triste aquele olhar, um olhar perdido, um olhar confuso. Seus pés descalços tocavam o chão e como se o frio fosse a temperatura de seu corpo, lá eles se fundiam. Era como se ela não estivesse ali, como se uma bela menina houvesse morrido sentada lá. E havia realmente uma menina sem vida por ali, uma menina que procurava a esperança no silêncio da noite junto do barulho de sua composição. Seu dedo escorregou por uma das teclas, seus olhos haviam fechado, seu rosto tocava as teclas agudas do piano, as lagrimas escorriam ao chão. Mas a música ainda estava lá, tão clara e pura como se fosse apenas uma linda manhã. Uma linha aguda cortando a sala e alguns gemidos estremecidos abafados. E um dia me ousaram dizer que tudo aquilo que ela tinha era o bastante para viver.

http://www.youtube.com/watch?v=W-Q5t4Q26o0

Vulneravel Criança.

     Eu sempre me fiz de forte, sempre demonstrei ser alguém diferente. Mas hoje é tarde demais para insistir na mesma mentira, dizer que ninguém nunca me fez chorar por amor, mentir sobre aquilo que vive dentro de mim, uma coisa que ainda não acabou, aquilo que todo mundo sente, mas que para mim parece tão complexo e tão novo. Eu queria poder tocar ao menos uma vez as mãos daquele que faz meu coração bater tão forte, mas são quilômetros que me separam da realidade que eu queria tocar.

     A todo lugar que eu vou, eu sempre me lembro de uma partícula do menino que tocou meu coração, o único que mudou alguma coisa dentro de mim. E estou sempre sonhando acordada com o menino da minha imaginação. Aquele que existe e que eu criei. E não há duvidas, sempre que estou fora de mim, minha cabeça vaga intensamente nos sentimentos que foram criados em mim. Eu não tenho prazer em viver quando não posso ao menos trocar uma misera palavra com ele, é algo tão forte, tão incomum. E podem me dizer que todos dizem que nunca sentirão algo como o que sentiram por aquele alguém, mas eu digo isso com toda a força.

     Eu nunca me senti tão vulnerável à vida, nunca fui tão frágil com um assunto, nunca senti tanta falta, e não foi uma misera besteira de amor que me disse que mudou algo, não foi uma música ou uma frase. Foi o conhecimento que tive daquele bem, foi um conjunto de uma personalidade. De uma brincadeira nasceu uma verdade que me dói. Um menino que vive lá fora, que está feliz com a sua vida (eu espero), eu estou perto de sangrar e ninguém consegue entender. Vão todos me julgar, por algo que parecem não conhecer. Me assistirão cair devagar e só irão nomear, nada mais, nada mais.

     Só uma pequena mudança e tudo estaria como deveria ser, não seria perfeito, seria como deveria ser. E talvez seja como deva ser, eu aqui e ele lá. Longe demais para um toque se contrapondo, longe demais para que eu pudesse me entregar, longe demais, longe demais. E nem sei se isso vai mudar. Eu vou prosseguir caminhando com a minha fantasia cobrindo a verdade, a verdade que me envergonha, tão fraca por alguém.


“É como se todas as coisas à minha volta brincassem com o que dói em mim, como se já não bastasse a dor da história, o mundo joga com o que eu ainda consigo fazer.”

O canto maldito de uma alma inconsolável

março 06, 2009

     O sal dança pelo meu rosto em um canto de agonia. Como espermatozóides a procura de um óvulo, guiados por um liquido que não os deixa morrer. Sal amargo, que dói tanto quanto uma lâmina que fina como um papel destrói células do maior órgão humano, esse tecido tenebroso que existe para cumprir um objetivo, capa de proteção. E proteção só se for da ciência, porque males passam por aqui como água por tecido. O choro queimando cada um de meus nervos, e os pés se esticando e contraindo, esticando e contraído. E por êxtase de horror minhas mãos sobem a cabeça à procura de proteção. Aquela proteção que antes de uma nova fase da vida, fase conturbada, era conduzida por mãos sofridas, nossos velhos pais. De que adiantou cuidar tanto de mim se ao final de tudo a única coisa que vale mesmo a pena é ter me mostrado que ainda existe algo bom. E se esse algo com existe, minha vida subjetiva indica que todos os dias são vazios e com risadas que duram poucos minutos, mas desaparecem sempre que estou com ninguém. E com que ser humano irei sonhar? Mais um de meus criativos personagens literários, ou até mesmo vidas distantes. E tudo se depara em uma besta ocupação sexual. Reprodução, reprodução. "Mais uma vida nessa oca vida minha, que vida essa será?" Só sei que poucos passos dou, com largas marcas de um passado. Adoraria empurrões, andar para frente e não para o lado. Porque se tem algo que não consigo, é o amor da total alucinação. E toda essa minha droga gira em volta da procura, da paixão que nunca senti, mas que me causa inveja quando reparada nos outros. Oh, por favor, me deixe cega, surda e muda, te garanto que assim é muito mais fácil encontrar alguém para esse meu coração, que cuidadoso o torno fiel a quem um dia poderei amar, mas de tão infiel à mim, o único sentimento que chega perto do amor me leva À momentos completamente banhados ao voyeurismo. E todo meu sadismo se acaba em uma taça de vinho e em um intelectual orgasmo orgulhoso.